sexta-feira, 20 de maio de 2011

OFICINA PDA/PADEQ AVALIA LUTA DOS AGRICULTORES FAMILIARES


No dia 12 de maio de 2011 agricultores familiares e representantes de diversas entidades ligadas aos trabalhadores rurais se reuniram no Hotel São Paulo, em Peixoto de Azevedo - MT, para debater as perspectivas da agricultura familiar além de avaliar os resultados do projeto PDA/Padeq e traçar um plano de ação para disseminação do conhecimento gerado nas comunidades da região. A equipe do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lucas do Rio Verde coletou entrevistas e levantou as principais reivindicações das lideranças dos assentamentos de Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte e Marcelância que participam do projeto.

A segunda oficina de sistematização do PDA/Padeq em 2011 aconteceu em Peixoto

A avaliação geral dos agricultores com relação ao projeto PDA/Padeq é positiva. Ambrósio, Secretário do STR de Peixoto e Secretário da Associação Renascer do assentamento Cachimbo, elogia a mudança de mentalidade desencadeada pelo projeto: “Hoje eu vejo muitos companheiros mudando seus conceitos. Diminuindo as queimadas. Diminuindo o número de gado sem ficar mais pobre”. Dona Dorcelina Rosa Barbosa, moradora da comunidade Santa Luzia em Peixoto e Vice Tesoureira da Associação Renascer é otimista e fala com satisfação do projeto. “A gente pensa que sabe, mas quando vê, a gente passa a saber mais ainda. E é muito gratificante. Então, os que não vieram ainda, que participem pra aprender.” Apesar disso, Dona Dorcelina está ciente das dificuldades. Disse que sua comunidade ainda não conseguiu acessar o programa da merenda escolar e cobrou que o governo dê continuidade aos projetos.

Dorcelina: continuidade do projeto

 Juvenal Gomes Fernandes, Presidente da Associação Agripac e morador do distrito União do Norte em Peixoto, comentou uma das reivindicações mais citadas na reunião: a assistência técnica. “Se é pra elaborar um projeto, precisa do acompanhamento de um técnico e até na questão da venda a gente precisa ser orientado”. Juvenal, o “Índio” como também é conhecido entre os companheiros, sabe que tanto o mercado quanto o programa de aquisição de merenda escolar pelo governo exigem qualidade.
As principais demandas levantadas pelas lideranças foram políticas públicas adequadas, investimento na infraestrutura dos assentamentos, capacitação técnica, crédito e ação do poder público. Além disso a comercialização, a organização, o acesso ao programa da merenda escolar e a distância dos assentamentos também estão entre os maiores desafios.


Ìndio: assistência técnica e qualidade na produção
Outra questão que gerou críticas foi com relação à atuação da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura). “Dentro dos assentamentos, o que a gente vê falar é que a Fetagri não resolve mais. Há um descredito muito grande da Federação no assentamento”- diz Luiz Paulo, Presidente da Cooperativa Coopernova Cachimbo I. Segundo Nilfo, Nilton é um dos poucos representantes da Federação que apoia ativamente os projetos do STTR de Lucas. Para Nilton José de Macedo, Diretor de Política Agrícola da Fetagri - MT, cabe também aos assentados ocupar espaços nas políticas públicas e cobrar das autoridades seus direitos. Cita o exemplo do Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar). “O Pronaf é um programa, não é lei. Qualquer político que quiser chegar lá e derrubar, derruba.” Segundo Nilton, é só através do movimento Grito da Terra que os agricultores familiares conseguiram manter o programa até agora.

Diante dos desafios levantados, Nilfo Wandscheer, Presidente do STTR de Lucas do Rio Verde sugere uma mobilização de agricultores familiares em Mato grosso. “Vamos trazer quatro ou cinco mil pessoas aqui da região, não só trancar a BR, vamos ocupar o Ibama, o Incra, a Sema, tudo lá em Cuiabá. E não vamos sair até que eles nos ouçam.” Walter Neves, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guarantã do Norte, acrescenta que seja feita uma ampla mobilização com a participação de movimentos como o MST (Movimento Sem Terra) para que o governo sinta as necessidades da agricultura familiar. “Nós só vamos mostrar força na hora que nós nos unirmos e formos pra BR. Vamos parar o Estado do Mato Grosso.”

Nilfo Wandscheer e Walter Neves: os agricultores familiares só serão ouvidos quando se mobilizarem

Entre os assentamentos representados no encontro, o que parece estar em situação mais crítica é a comunidade Tupã, localizado a cerca de 25 km de Marcelândia, onde os assentados reclamam de não terem o apoio das autoridades locais e de sofrerem constantes ameaças de despejo. “Teve policial entrando lá dentro e dizendo que a gente ia ser despejado. Também o oficial de justiça entrou várias vezes armado” - conta Leomar Bueno, morador do assentamento. Jarlene Pires, Presidente da Associação Terra da Gente, moradora da comunidade Tupã, diz que mesmo sem o apoio das autoridades locais, a área do assentamento é a que mais produz milho, arroz e feijão no município. “A gente correu atrás do projeto da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para colocar lá dentro, mas os políticos bloquearam porque a Secretária de Agricultura de Marcelândia (na época, Elisabete Vellini) se dizia dona da área. Quando nós começamos a entregar nossos produtos, nós fomos cortados. Não podíamos mais entregar porque estávamos em litígio.”
Além da pressão pelo bloqueio do projeto, os assentados suspeitam que o incêndio que atingiu o assentamento em agosto 2010, foi provocado para forçar a saída dos assentados. “Enquanto nós sofríamos para apagar o fogo, pra salvar alguma vaca leiteira que a gente tinha, tinha gente pondo fogo e a gente viu. E o prefeito (Adalberto Diamante) na rádio dando entrevista dizendo que nós éramos os vândalos e que estávamos colocando fogo.” - denuncia Leomar. Jarlene diz que vários meios de comunicação foram notificados mas nenhum mostrou a versão dos assentados. Para ela, o pior de tudo foi o que  chamou de “massacre” aos pais dos alunos que ficaram sem o transporte para escola, porque o ônibus escolar foi proibido de entrar no assentamento durante quase três meses.
Jarlene: "Aqui a gente vê que os sindicatos apóiam os agricultores"

Essa situação só começou a mudar quando cerca de 30 assentados se mobilizaram durante a visita do Governador Silval Barbosa a Marcelândia, em uma solenidade para assinar o Decreto de Regularização Fundiária de glebas do município no dia 20 de abril último. O prefeito e outras autoridades estavam presentes no evento. Jarlene conta que ligou para Nilfo antes da visita. “Aí deu a ideia de a gente fazer cartazes pra fazer um protesto amigável, pra ele ver a nossa situação.” O que era pra ser uma apresentação dos assentados se tornou um protesto pacífico com faixas e cartazes denunciando o descaso das autoridades locais. O governador conversou com os assentados e disse não saber da situação denunciada. Depois disso, o transporte escolar foi restabelecido. Jarlene diz que hoje os assentados da comunidade Tupã ainda encontram obstáculos, mas o reconhecimento das autoridades do município já é visível. “O projeto PDA está sendo uma vitória pra nós, porque os políticos estão vendo que nós não estamos mais sozinhos.” Mas o principal motivo foi a iniciativa da comunidade ao se organizar e reivindicar seus direitos. “Nós tivemos coragem de se levantar e se mostrar. Nós somos agricultores e trabalhadores”

 Cerca de 34 lideranças e sindicalistas cobraram a continuidade dos projetos
































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