No dia 27 de maio de 2011 foi a vez de Sinop receber a equipe do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lucas do Rio Verde para debater a situação da agricultura familiar na região. Estiveram presentes 25 pessoas entre assentados, sindicalistas e técnicos dos municípios de Juara, Sinop, Cláudia e Porto dos Gaúchos para apresentar, conhecer e avaliar as experiências de produção rural sustentáveis executadas pelo projeto PDA/Padeq no centro norte e norte do Mato Grosso. O objetivo do encontro é sistematizar e disseminar o conhecimento gerado pelos projetos, promovendo o intercâmbio entre os agricultores familiares na região. Também participaram três representantes da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
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Lideranças comunitárias, representantes de sindicatos e técnicos da Embrapa participaram |
Na região de Sinop, o projeto discutido foi a experiência de recuperação do córrego Loreta implantado pelo GAPA (Grupo Agroflorestal e Proteção Ambiental) no município de Cláudia. O engenheiro florestal Armin Beh, trabalhou no projeto e hoje atua no ICV (Instituto Centro de Vida). Ele explicou que o projeto do córrego Loreta visou a recuperação dos primeiros três quilômetros de matas ciliares dos dois lados da nascente do córrego. O projeto começou em 2006 quando o STTR de Lucas do Rio Verde e o ISA (Instituto Sócio Ambiental) procuraram o GAPA para participar do edital do PDA. A própria comunidade tinha uma demanda em restaurar a nascente. A recuperação foi feita com o uso de sementes e mudas cultivadas em um viveiro e plantadas em consórcio com espécies frutíferas, através do sistema agroflorestal, para reflorestar as margens degradadas.
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Armin: recuperação de nascente |
Além disso, Armin diz que o sistema agroflorestal pode ser facilmente replicado em outras áreas por conta do agricultor: “Na verdade não tem muito segredo. Tem que entender como se plantam as mudas, como se plantam as frutíferas e a relação entre as plantas, mas isso não é difícil de copiar. O custo é baixo, o proprietário vai resgatar esse investimento que faz e ainda tirar lucro. Numa APP não muito encharcada ele pode plantar mandioca junto com abacaxi, com arroz, milho, pimenta, limão, cupuaçu, banana. Ele faz uma salada de frutas junto com árvores nativas e se quiser pode plantar abóboras e em poucos meses ele tira frutas e já as aproveita”.
Sirlei: preocupação com a água |
Sirlei Pereira, Secretária da Associação dos Sem Terra de Juara, que luta há cinco anos para assentar famílias no município, fez uma avaliação positiva do encontro. “Achei muito interessante por que se nós não tomarmos cuidado, vamos ficar sem água no planeta terra. E aí nossos filhos vão sentir muita falta desse tesouro que nós temos. Então eu acho que devemos pensar em plantar e colher mas também em cuidar do meio ambiente.”
Nilfo Wandscheer, Presidente do STTR – LRV diz que além do Projeto Loreta, outras experiências no Eixo da BR – 163 serão sistematizadas. Entre elas o trabalho de recuperação de pastagens e preservação de nascentes feito pelo IOV (Instituto Ouro Verde) em Carlinda além das experiências de Vera, Nova Ubiratã e Nova Mutum. “É o momento de nós tentarmos aprender com essas experiências, trazê-las pro debate e mostrar pros governos, financiadores e doadores que mesmo com problemas e dificuldades, nós conseguimos alcançar uma meta, um objetivo que já esta nos apontando que é possível ter mudanças nessas comunidades, nessas famílias.”
PROBLEMAS E SOLUÇÕES PARA UM MODELO DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
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Adan: concentração de terras |
O técnico Adan da Mota, do STTR – LRV, comentou dados sobre a concentração de terra no Brasil. Segundo o IBGE, menos de 1% das propriedades ocupam cerca de 45% das terras. Em alguns municípios do Mato Grosso essa concentração é ainda maior. Em Santa Helena, 8% dos proprietários possuem 90% do município. Partindo da análise do novo código florestal proposto, Adan fez um resumo da história do código florestal brasileiro e destacou a importância de se construir e dar visibilidade a uma proposta de desenvolvimento sustentável alternativa ao modelo do agronegócio. Altamiro Stochero, do assentamento Terra de Viver em Cláudia, lembrou ainda que a situação de boa parte dos agricultores familiares é de miséria. “Se quem tem que produzir comida está passando fome e tem que pegar o bolsa família pra comer, então tem alguma coisa errada com as políticas públicas”. Altamiro fala da necessidade de os agricultores se organizarem e reivindicarem que as autoridades reconheçam a importância da agricultura familiar.
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Sidney: comunicação comunitária |
Os participantes debateram e listaram os principais entraves da agricultura familiar em suas comunidades: assistência técnica, políticas públicas (preço mínimo, estruturas, licenciamento, burocracia, etc.), organização coletiva, comercialização e novas tecnologias. Sidney Camargo, que trabalha na Associação Comunitária Rádio Nativa de Cláudia, destacou a falta de organização, assistência técnica e falta de reconhecimento por parte dos governantes que ainda tratam os agricultores familiares com cexta básica. Em Juara e Porto dos gaúchos o grande problema é a lentidão do INCRA em assentar as famílias de agricultores que não têm terra. Jair Bernardes, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto dos Gaúchos, comentou:“Tem uma área de 180 alqueires dentro da cidade, degradada, que dá pra assentar no mínimo 50 famílias. Eu fiz de tudo mas até o momento não tive êxito em assentar as famílias.”
Nilfo pergunta: “Quem está em pior situação: aquele que já foi assentado ou aquele que está embaixo do barraco? Existem assentados abaixo da linha da pobreza”. Para ele, a solução passa inevitavelmente pela formação e capacitação técnica e política dos agricultores familiares. “Hoje nós precisamos trazer pra junto de nós as pessoas que entendem, conhecem e sabem que nós temos importância. Aí entram os órgãos de pesquisa: Embrapa, Sebrae, Universidades, etc”. Nilfo diz que só organizados os trabalhadores podem reivindicar e acessar projetos de fortalecimento da agricultura familiar.
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Nilfo: formação e capacitação para a agricultura familiar |
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