sábado, 9 de abril de 2011

OFICINA PROPORCIONA FORMAÇÃO POLÍTICA AOS AGRICULTORES

O segundo dia do evento que marcou a criação da COPERREDE – Cooperativa Regional de Prestação de Serviços e Solidariedade – foi dedicado à formação política dos cerca de 50 agricultores e agricultoras presentes. Os palestrantes Clóvis Vailant e Francisco Dal Chiavon discutiram temas como a história do trabalho, exploração do trabalho na agricultura familiar e cooperativismo.

Clóvis: em defesa de uma economia solidária

Clóvis Vailant, da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), analisou como a sociedade industrial criou a moderna ideia de trabalho, na qual o progresso material deve ser alcançado através da competição. Assim, desde o mundo escolar somos preparados para o “competitivo mercado de trabalho”, sob o risco de sermos fracassados se não nos adaptarmos. Segundo o professor, essa visão dificulta a organização coletiva da população, que passa a ser apenas um exército de trabalhadores e consumidores. Desde os primórdios da civilização, trabalho gera riqueza, e quem domina o trabalho, domina o poder. Por isso, a escravidão e a servidão são extremos da dominação do homem pelo homem. O palestrante frisou que até hoje vemos esse domínio de forma mais sutil, através de uma cultura consumista e individualista que reduz o trabalho a uma mercadoria barata.


Chicão: a tendência é ocorrer uma inversão da urbanização
A partir daí, Francisco Dal Chiavon, o Chicão, explicou a importância do associativismo e do cooperativismo para o fortalecimento dos camponeses e da agricultura familiar. Chicão já atuou junto à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e atualmente é membro da Coordenação Nacional do MST, além de ser Tecnólogo em Agroecologia. Com a sabedoria de quem vive a luta dos camponeses há tempos, Chicão disse que é uma ilusão achar que um pequeno agricultor pode competir com os preços impostos pelo atual modelo de agronegócio. Sempre com um pé na agroecologia, ele disse “O modelo de agronegócio das grandes lavouras é inviável sob qualquer ponto de vista... De onde a gente só tira, um dia vai faltar!”.

Chicão demonstrou em números que a maior parte do lucro do agronegócio vem principalmente dos grandes volumes de produção obtidos com a agricultura mecanizada e uso intensivo de insumos, algo inviável para o camponês, e nocivo para a qualidade ambiental. Além disso, a maior parcela desse lucro fica com os transportadores, comerciantes e com a indústria, não com o agricultor. Assim, na opinião dele, a melhor alternativa para os pequenos produtores é se organizarem para conquistar legitimidade e força de negociação diante das organizações estatais.

Dentre os presentes, os mais ativos dão sua opinião com entusiasmo. Outros apenas observam. Mas todos parecem compreender as palavras do companheiro de lutas. “É preciso que a agricultura familiar conquiste o mercado local e faça com que os recursos gerados na região fiquem na região”, reforçou Chicão. Uma visão global e uma estratégia local que prenuncia os desafios da nova Cooperativa criada por esses trabalhadores.

O evento aconteceu em Lucas do Rio Verde, entre os dias 28 e 31 de março, na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

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