domingo, 10 de abril de 2011

COPERREDE NASCE PARA FORTALECER A AGRICULTURA FAMILIAR


A nova cooperativa nasce num momento crucial em que a sociedade discute as formas tradicionais de produzir alimento, baseadas no uso intenso de agrotóxicos, de trabalho assalariado em grandes empresas e degradação do meio ambiente. A criação da Coperrede – Cooperativa Regional de Prestação de Serviços e Solidariedade – mostra que os trabalhadores rurais estão organizados e oferecem à região centro e norte do Mato Grosso alternativas viáveis de produção sustentável de alimentos saudáveis, com criação de trabalho e renda através da agricultura familiar. E cobram o que falta: políticas públicas mais adequadas.

Os dois últimos dias do evento que marcou a criação da Coperrede contaram com a participação ativa de cerca de 50 lideranças comunitárias da região, de Sindicatos Rurais, autoridades do Governo Federal, Estadual e Municipal, além de diversas entidades que apoiam a agricultura familiar.

Ajustes no Estatuto e eleição da diretoria

No dia 30 de março, as lideranças reunidas no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lucas do Rio Verde, participaram da criação da cooperativa, discutindo e alterando pontos fundamentais do seu Estatuto. Alguns pontos foram consenso entre os participantes, como o papel da Coperrede na formação técnica e educacional dos cooperados, atuação na agroecologia e no desenvolvimento de pesquisas, além de formação em comunicação e informática.

Agricultura familiar em discussão
Outros pontos geraram controvérsia. Um exemplo foi o debate sobre o valor da quota mais adequado para todas as comunidades. Alguns acharam que o valor era alto para as comunidades mais carentes. O grande problema era que, por lei, uma cooperativa só poderia acessar o Programa Nacional de Merenda Escolar (em que a produção tem sua compra garantida pelo governo e destinada às escolas públicas) caso seu capital total mínimo seja R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). Um obstáculo gigantesco para as comunidades em processo de organização, cuja produção é limitada pela falta de estrutura e pelo abandono do poder público. O problema foi debatido até que chegou-se a um consenso: as quotas seriam de 10 reais mensais e todos assumiriam o compromisso de arregimentar mais cooperados para completar o capital total necessário.

No dia seguinte, 31 de março, foi realizado o Ato de Lançamento da nova cooperativa no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Lucas. Na abertura da solenidade, Nilfo traçou um panorama do consumo de alimentos na cidade: “Muita coisa vem de fora, nós não sabemos como foi produzido, quanto veneno jogaram naquilo lá, de que forma chegou aqui...” Uma referência à pesquisa feita pela UFMT e publicada pouco antes do evento, que revelou a contaminação de 100% das amostras de leite materno coletadas no município com quantidades de agrotóxicos muito além do permitido por lei. Edu Laudi, Secretário Municipal de Agricultura e Meio Ambiente explicou que não só o município de Lucas sofre com a contaminação por agrotóxicos e reafirmou o apoio da prefeitura do município “Nossa responsabilidade como poder público é bem maior com relação à agricultura familiar”.
Cerca de 50 pessoas compareceram ao evento

Francisco Dal Chiavon (Chicão), Coordenador Nacional do MST, concordou que o problema dos agrotóxicos não se restringe à Lucas do Rio Verde. Ele pontuou que se trata de uma opção histórica dos sucessivos governos pela forma de produção praticada pelo agronegócio, e desabafou “Não podemos mais suportar uma política mercenária, em que pra ganhar dinheiro dá pra se envenenar todo mundo. No Código Civil, se alguém envenenar uma outra pessoa ele é condenado, porque é um atentado à vida. Agora vejam vocês, alguém que envenena uma população inteira, não acontece nada. Tem justificativa?”.
Chicão em defesa da agricultura familiar

Chicão também lembrou que no passado, muitos projetos de assentamento foram criados a grandes distâncias dos centros consumidores e os trabalhadores rurais eram abandonados sem estrutura ou incentivo, para servir unicamente como “amansadores de terra”. E propõe uma solução: “O cinturão verde das grandes, pequenas e médias cidades é o local da reforma agrária e não nos confins das fronteiras agrícolas.”

O evento foi organizado pelo STTR - LRV, em parceria com o GTA (Grupo de Trabalho Amazônico). Além das lideranças comunitárias regionais, incluindo representantes de seis Sindicatos de Trabalhadores Rurais da região, participaram os seguintes convidados: Luiz Rodrigues Oliveira, do Ministério do Meio Ambiente; Dieter Metzner, do Ministério do Desenvolvimento Agrário; Clóvis Figueiredo, Secretário Adjunto da Agricultura Familiar de Mato Grosso; Aluísio Bassani, Presidente da Câmara dos Vereadores de Lucas do Rio Verde; Antônio Carlos Figueiredo, representante do Senador Pedro Taques; Vicente Puhl, da CONAB (Compania Nacional de Abastecimento); Manoel Imbiriba, representante da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura); Pedro dos Santos, representante da FVPP (Fundação Viver Produzir e Preservar) e Rubens Gomes, presidente do GTA.

A primeira diretoria eleita da Coperrede foi composta por: Nilfo Wandscheer, presidente; Celito João Trevisan, diretor financeiro; Cláudia Cristhiane da Silva, diretora secretária; Jair Luiz da Rosa, suplente do conselho de administração; Luir Garbin, João Carlos A. da Silva e Vilson De Bastiane titulares do conselho fiscal; Décio Guadani, Albino Carlos e Antônio Soares como suplentes do conselho fiscal.
Primeira diretoria da Coperrede

Também contribuiram Gastão José Casasus Vasconcelos (assentamento  Córrego Fundo),  Altamiro Stochero (presidente da Cooperativa de Produção, Agroindustrialização e Comercialização Terra de Viver), Clóvis Vailant (professor da Unemat), Miguel Spengler (assentamento 30 de Novembro), Adan Carlos da Mota (articulador pelo GTA e Coordenador Técnico pelo PDA) e Eidimara Fernandes Carvalho (assistente administrativo).

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