terça-feira, 30 de agosto de 2011

Projetos alternativos para agricultura familiar precisam de reforço


Por Gisele Neuls

Projetos pilotos como as cinco iniciativas em processo de sistematização no norte de Mato Grosso são importantes para as comunidades, mas carecem de força para mudar o modelo de desenvolvimento da agricultura familiar da região. Essa é uma das análises feitas pelas lideranças reunidas no Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lucas do Rio Verde nesta terça-feira, 30 de agosto.

um dos grupos de discussão levanta as demandas comuns entre as diferentes comunidades
O primeiro dia do Seminário Regional da Agricultura Familiar da BR-163 foi dedicado à apresentação das experiências dos cinco projetos financiados pelo Subprograma de Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente (PDA) ente 2006 e 2010. As apresentações feitas pelos agricultores participantes demonstram que os projetos oferecem uma oportunidade única de estruturação das suas entidades ao facilitar a compra de equipamentos e veículos e a construção de infraestruturas. Além disso, esses projetos funcionam como catalizadores, agregando outras instituições e fontes de financiamento à rede e relações sociais das associações de agricultores. Mas não podem ser vistos como a solução mágica para os problemas das famílias agricultoras.

Um dos limitantes é o pouco recurso disponível frente à imensa demanda de associações, sindicatos e cooperativas. Em Mato Grosso, o PDA beneficiou nove comunidades rurais, uma amostra tímida se considerarmos o universo de mais de 500 assentamentos da reforma agrária existentes em todo o estado. Para as comunidades beneficiadas por esses projetos de estímulo a alternativas de produção com menos impacto ambiental, os problemas também não são poucos. Entre eles, a comercialização dessa produção e a falta de regularização ambiental e fundiária são os mais críticos.

Iolanda, da Ribeirão Grande
No assentamento Califórnia, no município de Vera, as agroflorestas e a casa do mel foram um ganho importante para as famílias, mas a comercialização do mel e das polpas de frutas depende da obtenção de registros sanitários. Na hora de obtê-los, o assentamento esbarra na falta de licença ambiental. “Se não conseguirmos o licenciamento ambiental não vamos conseguir certificar nem vender nada” lamenta o agricultor Argeu Medeiros. O mesmo problema se repete nos assentamentos Entre Rios e Ribeirão Grande, localizados em Nova Ubiratã e Nova Mutum. Eles também implantaram apicultura como alternativa sustentável de renda, mas têm dificuldades para escoar a produção. “A gente vende de porta em porta, não conseguimos vender nos mercados do município”, conta Iolanda Dambros, da Ribeirão Grande.

Essas e outras demandas serão discutidas na quarta-feira, dia 31, com representantes dos governos federal e estadual. O objetivo do evento é discutir bases para um modelo de desenvolvimento sustentável capaz de transformar a realidade da agricultura familiar em larga escala. São esperados representantes da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema/MT), da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais e Meio Ambiente (Ibama).

O Seminário é promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lucas do Rio Verde e faz parte das atividades do projeto Disseminação de Experiências Inovadoras do Nortão do Mato Grosso, que tem apoio do Subprograma de Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente.

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