segunda-feira, 27 de junho de 2011

AGRICULTORES FAMILIARES PEDEM CONTINUIDADE DO PDA

Nesta quarta, dia 22 de junho, agricultores familiares, assentados, sindicalistas e técnicos se reuniram na câmara municipal de Vera, no centro norte de Mato Grosso, para discutir e avaliar a situação e os rumos da agricultura familiar na região. Cerca de 25 pessoas compareceram ao encontro onde também foram debatidas as experiências de produção sustentável geradas a partir do PDA/Padeq em Nova Ubiratã, Nova Mutum e Vera. A avaliação dos agricultores é unânime: o PDA tem que continuar.

Nilfo enfatizou a necessidade de lutar pela continuidade do PDA 
Assim como nas oficinas de Alta Floresta, Peixoto de Azevedo e Sinop, as falas dos participantes refletem a ineficiência do sistema político quando se trata de atender as necessidades da agricultura familiar. Nilfo Wandscheer, Presidente da Coperrede (Cooperativa de Prestação de Serviços e Solidariedade) e coordenador do projeto PDA criticou o descaso das autoridades na região. “Aqui não tem licenciamento, não tem assistência técnica, não tem política agrícola pra assentados. Parece que aqui não existe assentamentos, não existe agricultura familiar. A Empaer esta em greve. Os projetos de crédito fundiário todos parados. Não funcionam as coisas pra agricultura familiar aqui.”
O técnico do projeto PDA, Adan Carlos comentou os planos do governo federal para o futuro da agricultura no país. “Segundo acordos firmados entre o governo do Brasil e o governo da China, até 2021 a produção de grãos nacional terá que ser dobrada. Então, se a agricultura familiar já está enfraquecida, esse pouco de terra que a gente ocupa vai ser engolida se a gente não se organizar.”
Após um debate em grupos, os representantes de cada assentamento elencaram os principais desafios e necessidades presentes em suas comunidades. No assentamento P.A. Califórnia, em Vera, as demandas levantadas são representativas: regularização dos assentamentos, assistência técnica e pesquisa, acesso a tecnologias sociais, educação e ensino do campo e para o campo, formação iniciada e continuada de professores que conheçam a realidade da comunidade, política de habitação e serviço de saúde adequados, entre outras.
Cláudio Marques, o "Sargento"
Argeu Medeiros, do assentamento P.A. Califórnia, fala da experiência com apicultura em seu assentamento. Ele também defende a continuidade do projeto, dado que a realidade atual é mais complexa do que era no início do projeto: “Todo projeto que começa a dar resultado, cria novas demandas. A apicultura é um campo muito amplo, ele cria demanda de pólen, de própolis. A fruticultura com certeza vai criar demandas também.”
Cláudio Marques da Silva, o “Sargento”, vice presidente do Grupo de Trabalho Univida, do assentamento ENA em Feliz Natal, avaliou com esperança a oficina. “Até hoje o grupo ainda não andou com suas próprias pernas, então tem essa oportunidade, vamos aproveitar. O que for de bom pro grupo nós estamos aí pra aprender, somar e levar essa experiência pro assentamento.”







UMA VISÃO MAIS ABRANGENTE

Ao final da oficina, Altamiro Estochero, que mora no assentamento Terra de Viver, em Cláudia, avaliou reuniões do PDA. Para ele, as oficinas tem o papel de incluir os agricultores familiares nas discussões políticas relacionadas ao setor. “Eu acho interessante nós estabelecermos esse debate entre as políticas governamentais que existem pro agronegócio e pro pequeno agricultor, seja assentado ou agricultor tradicional camponês ou agricultor familiar. Assim a gente se posiciona enquanto trabalhador e sabe o campo que a gente está e o que nós temos que fazer se nós quisermos avançar do ponto de vista econômico, social e político. Pra nós essas políticas não vem, por que não é prioridade dos governos nem estadual, nem federal, muito menos municipais. Então nós estamos fora dessas políticas. Só vem pra nós as políticas compensatórias. Então nesse processo a gente fortalece as organizações que nós temos para a gente conseguir o que a gente quer.”
Altamiro falou também da importância das oficinas como meio de fazer o intercâmbio de experiências entre os agricultores familiares que foram beneficiados com os projetos e aqueles que ainda esperam ser beneficiados. “Nesse processo de debate a gente pode perceber que, por mais que os projetos do PDA ajudaram, não são suficiente. Por que é pouco recurso pra resolver uma complexidade muito grande de necessidades que os assentamentos tem. Então a demanda dos assentamentos é muito grande, pela falta de políticas públicas dentro deles. De modo que é unanimidade que o PDA tem que continuar. Tem problemas de execução como apareceu nas oficinas, tem suas limitações, mas tem que melhorar as ações e tem que continuar, por que é um programa flexível. Mas o PDA por si só também não é suficiente pros assentamentos. Então esse conjunto de políticas - educação, saúde, estrada, saneamento, casa, energia elétrica – o governo deveria perceber e ter como política pros assentamentos. A reclamação geral é por não ter o licenciamento ambiental, o que nos coloca como criminosos ambientais no Estado do Mato Grosso, e isso impede qualquer acesso de recursos do governo federal pra fazer investimento na produção agrícola. Então isso cria cada vez mais pobres no campo, em vez de crescimento econômico e social.”

Sobre a possibilidade de os projetos de produção sustentável serem reproduzidos nas comunidades sem financiamento ou subsídios, Altamiro defende uma visão mais abrangente dos resultados alcançados e uma mudança na forma de planejar a execução de projetos futuros. “Por mais que esses assentamentos receberam esses recursos, eles tem outras demandas. Esse projeto não respondeu essas demandas desses assentamentos que foram beneficiados. Nós temos que pensar o PDA pra resolver um problema um pouco mais amplo, fazer uma coisa mais integrada. Apicultura com reflorestamento, com comercialização, com agroindústria e atingir o mercado. Fazer esse processo, essa cadeia produtiva. Esses investimentos não resolvem com uma ação pontual. Ela pode ser reproduzida se tiver esse apoio governamental nesses outros assentamentos. Mas se não houverem recursos pra fazer esses investimentos, com certeza eles não vão sair. Disso eu não tenho dúvida.”
Altamiro 
Quando se trata de elencar um exemplo ente os projetos executados na região, ele cita a experiência do assentamento Entre Rios. “A Aproger é uma referência em Nova Ubiratã a partir dos investimentos do PDA. Ali houve um ganho político extraordinário, que estabeleceu uma relação política interessante com a prefeitura, que bota a disposição sua articulação política, seu secretário de agricultura, etc. Porque muitos prefeitos não querem saber de assentamentos. Olham como custo, não como benefício para o município. Ou você investe nos pequenos agricultores - por que é no município que fica o dinheiro desses, já que o agronegócio não deixa o dinheiro nos municípios - ou os municípios vão perecer.”
Dentre as vantagens visíveis conquistados pela agricultura familiar no assentamento Entre Rios, Stoquero listou a integração das famílias, o ganho econômico, o ganho de consciência política, a preservação ambiental e citou a apicultura como atividade que trouxe grandes mudanças na forma como a comunidade interage com o meio e produz. “Praticamente não existe mais queimada no assentamento, pra poder preservar a floresta e os rios para que o ambiente das abelhas possa existir para que elas possam produzir o mel. Por que essa é uma atividade econômica e eles enxergam nessa pequena atividade econômica uma possibilidade de renda como muitos já estão tendo. Onde todo mundo pensava em queimar, hoje tudo é preservado. Praticamente extinguiu-se o fogo. Ano passado foi o ano que mais houve queimada no Mato Grosso. Nesses assentamentos praticamente não pegou fogo. Quer coisa melhor do que isso? Com um projeto pequeno, olha a revolução cultural que dá na cabeça da pessoa, que sai de um processo de destruição pela queimada para um processo de preservação ambiental.”




Nenhum comentário:

Postar um comentário